Quem sou eu

Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Somos professores de língua e literatura clássica (Professor Matheus Trevizam - latim - e Professora Tereza Virgínia -grego) e uma aluna (Veronica Cabral) na Faculdade de Letras da UFMG. Como docentes, atuamos na graduação e na pós-graduação da FALE nas áreas do ensino, pesquisa e orientação científica a alunos.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Fechando o tema "Antigas Cortesãs": “Sed in iis erat Sempronia...”: “Bellum Catilinae, XXV”




“Sed in iis erat Sempronia...”: “Bellum Catilinae, XXV” e a decadência moral da aristocracia romana em fins da República

PROF. Matheus Trevisam

Parte I:

Ainda sobre o tema das “cortesãs” no mundo antigo, trazemos a público o testemunho historiográfico de Gaio Salústio Crispo (86 a.C./ 34 a.C.), conhecido autor de uma “Guerra de Jugurta” e de uma “Guerra de Catilina”. Nessa última obra, Salústio narra os eventos do levante armado contra o Senado de Roma que eclodira, em 62 a.C., sob a liderança de Lúcio Sérgio Catilina, nobre empobrecido e descontente com sua derrota para a magistratura Consular no ano anterior. Ora, Salústio imputa as ameaçadoras dimensões dessa Conspiração, que foi inclusive preciso debelar com uma batalha decisiva nas montanhas da Itália setentrional, também aos males do espantoso enriquecimento de Roma desde os tempos das Guerras Púnicas (séc. III/ II a.C.), com os resultados do acréscimo da ambição patrícia e da ociosidade plebeia.

Assim, “arrebanhando” pessoas de nascimento privilegiado que, como ele próprio, tinham-se arruinado por manobras desonestas ou pelo luxo a todo custo, bem como membros da “arraia-miúda” esperançosos de uma melhora de vida com a passagem do poder a novas mãos, Catilina pôde constituir numeroso grupo de seguidores.

Parte II:
O exemplo de Semprônia (“Bellum Catilinae, XXV”), nobre romana prostituída à cata de vantagens pessoais (e que, em sua venalidade, aproximamos de uma Laís de Corinto e de uma Neera quanto ao “meio de vida”) ilustra bem, na visão de Salústio, o caráter vil e destituído de justas reivindicações desses conspiradores contra o Senado:

“Entre estas havia uma Semprônia, que tinha cometido muitos crimes de varonil audácia. Esta mulher, tanto a respeito de nascimento e beleza, como de esposo e filhos era assaz afortunada: douta nas letras Gregas e Latinas, cantava, dançava com mais elegância do que à dama honesta convém, e possuía todas as mais prendas que são incentivo da luxúria. Mas tudo para ela foi sempre mais caro do que a honra e a honestidade. Se o dinheiro ou a reputação menos poupava, não era fácil decidir-se: era tão libidinosa, que mais vezes procurava os homens, do que era procurada. Muitas vezes tinha já traído a fé, negado dívidas, sido capa de assassinos: o luxo e a pobreza a tinham perdido”.

(a clássica versão oitocentista desta passagem é de autoria do latinista luso José Vitorino Barreto Feio, também competente tradutor da “Eneida” virgiliana em versos para nosso idioma).

Links relacionados: "Do silêncio das mulheres à voz de Cornélia Semprônia" (Parte 1) -por Alice M. de Souza


Imagens: Wikipedia e "História e história" (link acima).



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