Quem sou eu

Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Somos professores de língua e literatura clássica (Professor Matheus Trevizam - latim - e Professora Tereza Virgínia -grego) e uma aluna (Veronica Cabral) na Faculdade de Letras da UFMG. Como docentes, atuamos na graduação e na pós-graduação da FALE nas áreas do ensino, pesquisa e orientação científica a alunos.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Anúncios de Tirésias: o que acontece e vai acontecer nos estudos do Mundo Clássico

V Colóquio Internacional - La Plata - Argentina

Termina hoje o "V Colóquio Internacional de Estudos Clássicos", que acontece desde do dia 16 de junho na cidade de La Plata, capital da província de Buenos Aires, na Argentina. O tema: "Mito y Performance. De Grecia a la Modernidad". Esperamos ansiosos a chegada da Profa. Tereza Virgínia Barbosa, com notícias diretas.

XVI Congresso Nacional de Estudos Clássicos - SBEC

A SBEC (Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos) anuncia o "Congresso Nacional de Estudos Clássicos", que ocorrerá em Natal/ RN, no campus da UFRN, entre os dias 21 e 25 de setembro de 2009. O tema: "Amizade e prazer no mundo antigo". Maiores informações no site da SBEC.

13º Congresso Internacional da FIEC (Fédération internationale des associations d'études classiques) -13th FIEC International Congress:

Também anuncia a SBEC que o "13º Congresso Internacional" da Fiec acontecerá entre os dias 24 e 29 de agosto de 2009, em Berlim, na Alemanha, e informa que os pedidos de subsídios para participação no Congresso estão abertos. Para isso, é preciso acessar os links abaixo e obter maiores informações:
http://www.fiecnet.org/en/index.htm
http://www.fiec2009.org/

Anais de Filosofia Clássica, n. 3

A UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) anuncia que a última edição da Revista Eletrônica "Anais de Filosofia Clássica" (2008) está no ar, com o tema "Poética de Aristóteles". Para ter acesso, basta clicar aqui.

Enquanto isso, esperamos o "Nuntius Antiquus"...

Para breve, também a 3ª edição da revista "Nuntius Antiquus" ("mãe" eletrônica deste blog). Mas, enquanto esperamos, podemos acessar e ler os artigos das duas últimas edições da revista. Clique aqui para acessar "Nuntius Antiquus"

Entrevista com o Professor Dr. Antônio Orlando de Oliveira Dourado Lopes - Grego - UFMG


Professores de língua e literatura clássica

Entrevista com o Professor Dr. Antônio Orlando - UFMG


Nome completo: Antonio Orlando de Oliveira Dourado Lopes
Graduação: Filosofia (UFRJ)
Pós-graduação: Filosofia (Universidade de Estrasburgo, FR)
Local de trabalho: Faculdade de Letras da UFMG
Título da tese recém-defendida: "L'effectivité improbable. Une étude de l'adverbe 'rheîa', de l'adjectif 'khalepós' et des termes qui en dérivent dans les poèmes homériques"

NN- Professor Antônio Orlando, como veio a interessar-se sobre a produção homérica, tema de sua tese recém-defendida?

Prof. Antônio Orlando - Foi estudando filosofia grega e, mais especificamente, Platão, que percebi a importância e a riqueza de Homero, que já nos períodos arcaico e clássico era considerado a fonte mais profícua da cultura grega. De certo modo, os gregos cresciam se vendo no espelho que era Homero, ainda que muitos tenham polemizado contra as presumíveis distorções desse espelho.


NN - Seria possível resumir em linguagem cotidiana o essencial de sua proposição teórica na tese, ou alguma de suas ideias?


Prof. Antônio Orlando - Eu discuto duas raízes de palavras na tese. De uma delas nasce o advérbio 'rheîa', posteriormente escrito 'rheidíos', que costuma ser traduzida por 'facilmente', e eu proponho a tradução 'efetivamente'. A outra gera o adjetivo 'khalepós', que normalmente se traduz por 'difícil', e eu a interpreto traduzindo-a por 'improvável' ou 'pérfido', de acordo com o contexto. A minha tese é só sobre Homero e nela eu retomo a discussão sobre o ideal heróico para criticar a moral do esforço e substituí-la pela perspectiva trágica da vida, que me parece muito mais grega. Procuro elaborar uma leitura de Homero mais aguda, porque acho que tanto a Ilíada quanto a Odisséia pedem isso. Para mim, herdar a cultura grega na nossa cultura é não nos deixar esquecer da radicalidade com que eles viveram a experiência da efemeridade. Infelizmente, a compartimentação dos períodos históricos faz os estudiosos muitas vezes relegarem a Homero a função de ser algum tipo de precursor, quando na verdade as duas grandes narrativas que nos chegaram são obras extremamente sofisticadas de uma cultura que projetou muito longe as expectativas da experiência humana. Penso que atender a essas expectativas continua sendo um desafio até hoje.

NN - O espírito épico persiste na produção literária (ou cultural) de hoje em dia? De que maneira?


Prof. Antônio Orlando - Quando estudamos o surgimento e os vários desdobramentos do espírito épico na nossa tradição literária, que se trate de Virgílio ou de Camões, por exemplo, concluímos que o ímpeto de se compor epopéias está muito vinculado a um momento histórico, que demanda a reflexão sobre os valores de uma cultura que só a epopéia dá. Desse ponto de vista, a epopéia parece dever-se a um sentimento de crise de valores, tais como parece ter havido na era de Augusto ou no Renascimento. Penso que hoje encontramos por toda parte o sentimento de um esvaziamento ético radical (que Nietzsche, por exemplo, chamou de niilismo), mas não sei de obras artísticas com a pretensão das epopéias. Isso talvez se deva ao fato de que tenhamos chegado a um tal grau de ceticismo em relação à possibilidade de encontrar valores para a nossa civilização que nos falte a energia gigantesca requerida para a realização de um verdadeiro poema épico. Espero, todavia, que eu esteja errado.

Para maiores informações e contato com o Professor Antônio Orlando fale conosco:

A Imagem se chama "A educação de Aquiles",e pode ser encontrada no site "Paideuma".


terça-feira, 9 de junho de 2009

Plínio, o jovem

"Otium" e "negotium" em Plínio, o jovem
Professor Matheus Trevizam

Na figura de Plínio, o jovem (61 a 113 d.C.), vemos uma personagem dos altos círculos sociais do início do período imperial romano: sobrinho de Plínio, o velho, famoso naturalista que morreria durante a catastrófica erupção do Vesúvio (79 d.C.), o epistológrafo teve suas origens familiares na Itália do Norte, abaixo lembrada com carinho pela menção ao lago Lário (moderno Como). Além disso, tendo desempenhado vários cargos políticos em Roma até sua morte, ao governar a província oriental da Bitínia, contam-se entre seus habituais correspondentes o historiador Cornélio Tácito e o próprio imperador Trajano.
As traduções foram por mim realizadas a partir da edição de A.-M. Guillemin para o primeiro volume das “Cartas” de Plínio (Paris: Les Belles Lettres, 1953).

Livro I 6:

C. Plínio a seu caro Cornélio Tácito:
Rirás, e podes, mesmo, rir. Eu em pessoa, como sabes que sou, cacei três - e belíssimos - javalis. “Tu mesmo?”, dizes. Eu mesmo, mas não de todo alheio a meu sossego e a que me afastasse em paz. Estava sentado junto das redes: não havia perto venábulo ou lança, mas um estilete e tabuinhas para escrever; refletia um pouco e tomava notas, a fim, se levasse de volta as mãos vazias, de levar cheias as ceras. Não tens motivo para condenar tal forma de estudo: é incrível como a mente se excita com a agitação e o movimento do corpo; além disso, por toda parte as matas, a solidão e aquele silêncio mesmo, que se faz ao caçar, são grandes incentivos ao pensamento. Por isso, quando caçares, poderás, a meu convite, levar um cesto para pães e uma bilha, assim como tabuinhas para escrever; vais ver que Diana não erra pelos montes mais do que Minerva! Adeus.
(notas do tradutor: os antigos romanos, em geral, escreviam arranhando com estiletes de osso tabuinhas recobertas por cera de abelha; Diana era uma deusa agreste, favorecedora das caçadas; Minerva, pois nascera pronta só da cabeça de Júpiter, da engenhosidade humana)

Livro II 8:

C. Plínio a seu caro Canínio:
Refletes, pescas, caças ou tudo isso? De fato, tudo se pode fazer ao mesmo tempo às margens de nosso Lário: o lago, ao peixe; as matas que cingem o lago, às feras; este teu refúgio profundo, intensamente, leva à reflexão. Mas, se fazes tudo junto ou qualquer coisa, não posso dizer que te invejo: sofro por não poder eu mesmo o que desejo muito, como os doentes o vinho, os banhos, as fontes... Nunca, se me é vetado soltar, quebrarei estes laços sufocantes? Nunca, acho. Somam-se novas às velhas obrigações, mas não se resolvem as primeiras: com tantos nós, com tantas, por assim dizer, correntes aumenta a cada dia a série de meus afazeres. Adeus.
Imagem
Imagem : " Caio Plínio saúda a Fábio Justo", exposta no museu "Louvre", Paris. Encontrada no site "Senhora Sócrates".

terça-feira, 2 de junho de 2009

Cícero - estilo incomparável a caminho do exílio




A caminho do exílio: duas cartas de Cícero


Professor Matheus Trevizam




Nos dois “espécimes” epistolares abaixo, Marco Túlio Cícero, tido como o maior orador antigo ao lado do grego Demóstenes, dirige-se ao amigo Ático num momento difícil de sua trajetória pessoal. Referimo-nos aos acontecimentos de 58 a.C., quando, perseguido pelas intrigas de P. Clódio, que o acusava de arbitrariedade durante sua repressão à Conjuração de Catilina, foi forçado ao exílio na Grécia (Tessalônica). Já em 57 a.C., porém, protegido por Pompeu Magno, Cícero tornou “reabilitado” à Itália. As cartas foram por mim traduzidas a partir da edição de L.-A. Constans para o segundo tomo das “Epistulae ad familiares” (Paris: Les Belles Lettres, 1950); Terência, a título de esclarecimento, era a esposa de Cícero.

LIX – A Ático
At. III, 5
Terência agradece a ti com frequência e muito, o que me dá grande prazer. Quanto a mim, vivo infelicíssimo, e mata-me a maior dor. Nem sei que te escreva! Na verdade, se estás em Roma, já não podes alcançar-me; mas, se estás a caminho, pessoalmente trataremos do que se deve tratar quando me tiveres alcançado. Apenas te peço, como sempre tiveste a mim mesmo em alta conta, que conserves este afeto; eu, de fato, sou sempre eu. Privaram-me meus inimigos de minhas coisas, não de mim mesmo. Cuida da saúde! Dez de abril, Túrio.

Nesse ínterim, o encontro planejado entre Cícero e Atico não pôde concretizar-se:

LXI – A Ático
At. III, 6
Eu não duvidava de que te veria em Tarento ou em Brundísio, e isso envolvia muitas coisas; entre elas, que eu esperasse no Epiro e que me aconselhasse contigo sobre o restante. Como não foi possível, também se deverá contar entre o grande número de minhas tristezas. Parto para a Ásia, em especial para Cízico. A custo e miseravelmente estou de pé! Dezessete de abril, território de Tarento.


Questão de língua - latina



As duas classes de adjetivos em latim

Professor Matheus Trevizam



O sistema dos adjetivos latinos bifurca-se, por um lado, entre aqueles de primeira classe e, por outro, os de segunda classe. No primeiro caso, sempre triformes (correspondendo as formas em “us”/ “er” ao nominativo masculino singular, a em “a” ao nominativo feminino singular e a em “um” ao nominativo neutro singular), basta procurá-los no dicionário ou na gramática com as marcas do tema em “a” (feminino) ou em “o” (masculino e neutro).

No segundo, os adjetivos podem ser triformes (apresentando “er” para o nominativo masculino singular, “is” para o nominativo feminino singular e “e” para o nominativo neutro singular), biformes (apresentando “is” para o nominativo feminino e masculino singular e “e” para nominativo neutro singular) ou uniformes (apresentando uma só forma para os três gêneros do nominativo singular), e, em sua esmagadora maioria, são de tema em “i” (vocálico), com genitivo plural em “ium”.

Quando os adjetivos de segunda classe são uniformes, enfim, a segunda forma que lhes é dada no dicionário corresponde ao genitivo singular, comumente partilhado por todos os gêneros (exemplo: felix, felicis).

Exercício: marque se os adjetivos dados no caso nominativo são de primeira ( 1 ) ou segunda ( 2 ) classe:
1. bonus, bona, bonum ( )

2. tristis, triste ( )


3. pulcher, pulchra, pulchrum ( )


4. acer, acris, acre ( )


5. felix, felicis ( )


6. ater, atra, atrum ( )


7. malus, mala, malum ( )


8. piger, pigra, pigrum ( )


9. uelox, uelocis ( )


10. dulcis, dulce ( )


11. omnis, omne ( )


12. breuis, breue ( )


13. albus, alba, album ( )


14. piger, pigra, pigrum ( )


15. Romanus, Romana, Romanum ( )

Resultados na próxima edição do "Questões de língua".





segunda-feira, 1 de junho de 2009

Considerações sobre o gênero epistolar



Que mal faz uma epístola?



Manuela Ribeiro Barbosa


Cesário Verde, poeta do “Sentimento dum Ocidental”, preambula, em carta a amigo, que deveria mandar imprimir o cabeçalho de suas cartas em gráfica, uma vez que o início das suas, sempre igual, é normalmente uma sequência de pedidos de desculpas insinceras pelo atraso nas respostas. Essa abertura já nos revela dois dos elementos mais importantes do gênero epistolar: o lugar-comum, fadado a ser repetido e modificado, e a questão da sinceridade. Há muito mais, porém, nas missivas: o aspecto retórico, que os antigos testemunham amplamente, o convívio entre apócrifo e legítimo, a construção simultânea da subjetividade e da alteridade, a obra coletiva, o ritmo que se impõe entre os correspondentes, a lide com normas e a quebra delas, o papel de mediador, a interferência e o ruído.
Daí elas terem figurado, com Platão e Cícero, Sêneca e a primitiva igreja cristã, como protagonistas de relevo, para não mencionar a literatura, desde a carta presente no reconhecimento de Orestes, eleito por Aristóteles o mais perfeito, até tentativas bem mais recentes, quando a carta surge ofuscada pelas demais possibilidades tecnológicas.
Renzo Tosi, em seu Dicionário de Sentenças Latinas e Gregas, atribui à frase “verba volant, scripta manent” origem medieval, pela necessidade de, em matérias graves, assegurar contratos escritos preferencialmente a acordos verbais. No entanto, como todo bom adágio, este também não tem apenas um significado e um contexto de uso; ele foi invocado historicamente para atestar a permanência da escrita e a sua durabilidade frente ao volátil da fala, aqui representadas pelo termo "verbum", palavra.
A carta, contudo, proteiforme, como expressou Balzac, desagrada aos categorizadores. Conversa à distância, enviada no hoje e através dos tempos, em particular e a quem interessar possa, para evitar o esquecimento ou para mantê-lo, pensamento nômade, como quer Brigitte Diaz, comunicação cujo ideal, um tanto ambíguo, seria extinguir-se e ceder lugar à presença viva, a carta materializa as aporias da escrita; é palavra que permanece e escrita que voa.