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Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Somos professores de língua e literatura clássica (Professor Matheus Trevizam - latim - e Professora Tereza Virgínia -grego) e uma aluna (Veronica Cabral) na Faculdade de Letras da UFMG. Como docentes, atuamos na graduação e na pós-graduação da FALE nas áreas do ensino, pesquisa e orientação científica a alunos.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Entrevista com o Professor Dr. Antônio Orlando de Oliveira Dourado Lopes - Grego - UFMG


Professores de língua e literatura clássica

Entrevista com o Professor Dr. Antônio Orlando - UFMG


Nome completo: Antonio Orlando de Oliveira Dourado Lopes
Graduação: Filosofia (UFRJ)
Pós-graduação: Filosofia (Universidade de Estrasburgo, FR)
Local de trabalho: Faculdade de Letras da UFMG
Título da tese recém-defendida: "L'effectivité improbable. Une étude de l'adverbe 'rheîa', de l'adjectif 'khalepós' et des termes qui en dérivent dans les poèmes homériques"

NN- Professor Antônio Orlando, como veio a interessar-se sobre a produção homérica, tema de sua tese recém-defendida?

Prof. Antônio Orlando - Foi estudando filosofia grega e, mais especificamente, Platão, que percebi a importância e a riqueza de Homero, que já nos períodos arcaico e clássico era considerado a fonte mais profícua da cultura grega. De certo modo, os gregos cresciam se vendo no espelho que era Homero, ainda que muitos tenham polemizado contra as presumíveis distorções desse espelho.


NN - Seria possível resumir em linguagem cotidiana o essencial de sua proposição teórica na tese, ou alguma de suas ideias?


Prof. Antônio Orlando - Eu discuto duas raízes de palavras na tese. De uma delas nasce o advérbio 'rheîa', posteriormente escrito 'rheidíos', que costuma ser traduzida por 'facilmente', e eu proponho a tradução 'efetivamente'. A outra gera o adjetivo 'khalepós', que normalmente se traduz por 'difícil', e eu a interpreto traduzindo-a por 'improvável' ou 'pérfido', de acordo com o contexto. A minha tese é só sobre Homero e nela eu retomo a discussão sobre o ideal heróico para criticar a moral do esforço e substituí-la pela perspectiva trágica da vida, que me parece muito mais grega. Procuro elaborar uma leitura de Homero mais aguda, porque acho que tanto a Ilíada quanto a Odisséia pedem isso. Para mim, herdar a cultura grega na nossa cultura é não nos deixar esquecer da radicalidade com que eles viveram a experiência da efemeridade. Infelizmente, a compartimentação dos períodos históricos faz os estudiosos muitas vezes relegarem a Homero a função de ser algum tipo de precursor, quando na verdade as duas grandes narrativas que nos chegaram são obras extremamente sofisticadas de uma cultura que projetou muito longe as expectativas da experiência humana. Penso que atender a essas expectativas continua sendo um desafio até hoje.

NN - O espírito épico persiste na produção literária (ou cultural) de hoje em dia? De que maneira?


Prof. Antônio Orlando - Quando estudamos o surgimento e os vários desdobramentos do espírito épico na nossa tradição literária, que se trate de Virgílio ou de Camões, por exemplo, concluímos que o ímpeto de se compor epopéias está muito vinculado a um momento histórico, que demanda a reflexão sobre os valores de uma cultura que só a epopéia dá. Desse ponto de vista, a epopéia parece dever-se a um sentimento de crise de valores, tais como parece ter havido na era de Augusto ou no Renascimento. Penso que hoje encontramos por toda parte o sentimento de um esvaziamento ético radical (que Nietzsche, por exemplo, chamou de niilismo), mas não sei de obras artísticas com a pretensão das epopéias. Isso talvez se deva ao fato de que tenhamos chegado a um tal grau de ceticismo em relação à possibilidade de encontrar valores para a nossa civilização que nos falte a energia gigantesca requerida para a realização de um verdadeiro poema épico. Espero, todavia, que eu esteja errado.

Para maiores informações e contato com o Professor Antônio Orlando fale conosco:

A Imagem se chama "A educação de Aquiles",e pode ser encontrada no site "Paideuma".


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