Quem sou eu
- Nuntius Notícias
- Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
- Somos professores de língua e literatura clássica (Professor Matheus Trevizam - latim - e Professora Tereza Virgínia -grego) e uma aluna (Veronica Cabral) na Faculdade de Letras da UFMG. Como docentes, atuamos na graduação e na pós-graduação da FALE nas áreas do ensino, pesquisa e orientação científica a alunos.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Anuncios de Tiresias - Estudos clássicos na UFRJ
domingo, 18 de outubro de 2009
A verdade até certo ponto revelada em “Contra Neera”, de Demóstenes
A verdade até certo ponto revelada em “Contra Neera”, de Demóstenes
O discurso judicial (acusatório) “Contra Neera”, atribuído ao orador ateniense Demóstenes (384-
Em Atenas, além de ter-se juntado a uma estrangeira e ex-escrava como se ela fosse cidadã do lugar, Estêfanos registrou os filhos bastardos de Neera em sua “fratria” para fazê-los passar por seus descendentes legítimos e deu Fanô, uma dessas crianças (e também prostituta!), em casamento ao tolo nobre Teógenes. Casada com essa personagem dos altos círculos sociais de Atenas, Fanô chegou impuramente a tornar-se “esposa” do “Arconte-rei” (Sacerdote-chefe do culto público), pois o desavisado marido fora escolhido para o cargo por um ano. Tal profanação do culto, aos olhos dos tradicionalistas, representava os riscos de que os deuses, irados, viessem a punir toda a cidade.
Por uma ironia do destino, embora se trate o “Contra Neera” de um dos mais eloquentes testemunhos sobre a prostituição na Grécia clássica, não se sabe o desfecho do julgamento de Neera...
Para conhecer em maiores detalhes a história dessa cortesã, além da leitura do próprio discurso de Demóstenes, recomenda-se, de Catherine Salles, a obra Nos submundos da Antiguidade (Brasiliense, 1983), em tradução brasileira de Carlos Nelson Coutinho.
Prof. Matheus Trevizam
IX SEVFALE - De 19 a 23 de Outubro
Dia 19/10/2009 : segunda-feira
9:30 às 11:00
Núcleo | Programa | Sala |
NEAM | Mesa-redondaReligiosidade e literatura na Roma antigaCoordenadora: Heloísa Maria Moraes Moreira Penna (UFMG) Religião romana no De re rustica varroniano – Matheus Trevizam (UFMG) Religião romana nos Fasti de Ovídio – Heloísa Maria Moraes Moreira Penna (UFMG) | 4004 |
Núcleo | Programa | Sala |
NEAM | ConferênciaFabricar um deusEzio Pellizer (Università degli Studi di Trieste, Itália) Moderador: Matheus Trevizam | Auditório 2001 |
16:00 às 18:00
Núcleo | Programa | Sala |
NEAM | Mesa-redondaO desporto, o amor e a morte na Grécia antiga Coordenador: Bruno Salviano Gripp (UFMG) A primeira pessoa nos fragmentos 69, 70 e 73 V. de Alceu de Mitilene – Bruno Salviano Gripp (USP) Luta-livre e condição humana na VIII Pítica – Gustavo Henrique Montes Frade (UFMG)O amor como doença em Safo de Lesbos – Marina Pelluci Duarte Mortoza (UFMG) A morte filosófica – José Gonçalves Poddis (UFMG) | 4071 |
Dia 20/10/2009 : terça-feira
16:00 às 18:00
Núcleo | Programa | Sala |
NEAM | Mesa-redondaAntigos e modernos: processos de transmissão textual e cultural Coordenadora: Maria Olívia de Quadros Saraiva (UFMG) Descrição codicológica e aspectos paleográficos do manuscrito grego da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro – Maria Olívia de Quadros Saraiva (UFMG) O autômato e o monstro em Creta – Josiane Félix dos Santos (UFMG) Mito, literatura e ecologia: as ninfas na obra de Lima Barreto – Vanessa Ribeiro Brandão (UFMG) Interseções: Augusto Matraga e o mito de Dioniso – Andréia Garavello Martins (UFMG) | 3106 |
20:45 às 22:00
Núcleo | Programa | Sala |
NEAM | Espetáculo Coro de Os persas de Ésquilo, em tradução de Jaa Torrano Alunos de grego da FALE/UFMGDireção: Andréia Garavelo (UFMG) | Auditório 1007 |
Dia 21/10/2009: quarta-feira
9:30 às 11:00
Núcleo | Programa | Sala |
NEAM | ConferênciaNotas sobre Quintiliano educadorMarcos Aurélio Pereira (UNICAMP)Moderador: Matheus Trevizam (UFMG) | 3000 |
Núcleo | Programa | Sala |
NEAM | Mesa-redondaÉpica e romance: dois momentos da narrativa antiga Coordenador: Thiago de Souza Bittencourt Rodrigues (UFMG) A unidade e a coerência da composição dos Trabalhos e dias de Hesíodo – Thiago de Souza Bittencourt Rodrigues (UFMG) Homero sob a perspectiva crítica de Demétrio em Sobre o estilo – Gustavo Araújo de Freitas (UFMG) O olhar do bárbaro em Heracles de Luciano de Samósata – Flávia Freitas Moreira (UFMG) | 3055 A |
Dia 22/10/2009: quinta-feira
16:00 às 18:00
Núcleo | Programa | Sala |
NEAM | Mesa-redondaA sociedade antiga na paz e na guerra Coordenador: Carlos Eduardo de Souza Lima Gomes (UFMG) Entre Heródoto e Aristóteles: a construção de um Sólon pela tradição – Carlos Eduardo de Souza Lima Gomes (UFMG) Amizade e inimizade na vida política grega – Priscilla Gontijo Leite (UFMG) Ákletoi e sympósia: um estudo sobre a figura do parasita na Grécia antiga – Jorge Gesuilo (UFMG) A guerra civil em César e Lucano – Priscilla Adriane Ferreira Almeida (UFMG) | 3065 |
Dia 23/10/2009: sexta-feira
16:00 às 18:00
Núcleo | Programa | Sala |
NEAM | Mesa-redonda Helenismo, judaísmo e cristianismo Coordenador: Cesar Motta Rios (UFMG) Hermenêutica diegética: o potencial interpretativo das narrativas judaicas e cristãs em língua grega – Cesar Motta Rios (UFMG) Resistência ao helenismo nos Testamentos dos doze Patriarcas – Emerson Santos Amaral (UFMG) Referências não-luciânicas a Peregrino Proteu – Douglas Cristiano Silva (UFMG) Gigantes, demônios e deuses nos apologistas cristãos do segundo século – Jacyntho Lins Brandão (UFMG) | 3002 |
PÔSTERES
Os pôsteres serão afixados no saguão em frente ao Auditório 1007,
nos dias 22 e 23 de outubro, das 9 às 21 horas.
O curso de latim no CENEX/FALE – Guilherme Campos (UFMG)
Sarau da Odisseia: será que Ulisses chegará em casa? – Josiane Felix (UFMG)
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segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Uma modesta cortesã: a personagem de Báquis na “Hecyra” de Terêncio
Uma modesta cortesã: a personagem de Báquis na “Hecyra” de Terêncio
Dentre os antigos comediógrafos romanos, Públio Terêncio Africano (185-
Daí, no contexto de uma peça como sua Hecyra (“A sogra”), a presença de uma tocante personagem como Sóstrata, a “mater familias” a quem se imputara com injustiça a partida de casa da jovem Filúmena, esposa de seu filho, Pânfilo, por supostas desavenças entre sogra e nora. Na verdade, antes de casar-se, Filúmena fora violentada por um desconhecido e se descobrira grávida depois de já unida ao marido; assim, alarmados ambos os jovens com o problema, a moça decide voltar para a casa de seu pai, onde dá à luz um menino. O enredo da peça, no entanto, mostra ao fim que, sem o saber, o causador da gravidez da esposa fora o próprio Pânfilo, numa noite de embriaguez: tendo ele, na ocasião, dado à “bondosa” cortesã Báquis, sua antiga amante, o anel que roubara da moça violentada no escuro e fazendo-se, enfim, o reconhecimento de tudo por este objeto, pôde ao término o jovem voltar a viver em paz com sua esposa e o filho.
Na tradução de Walter de Medeiros, eis abaixo as delicadas (e sinceras) palavras de Báquis ao ex-amante reconciliado com Filúmena: “Fazes bem, Pânfilo, em te afeiçoares à tua mulher. Nunca até agora – que eu saiba – a tinha visto rosto a rosto: parece-me uma verdadeira senhora” (entre v. 860 e 865).
(edição citada - Terêncio. “A sogra”. Tradução de Walter de Medeiros. Brasília: UNB, 1994)
Hetairas - figuras
Hetaira - antigas cortesãs
“O julgamento de Frineia”
Mnezarete, a divina, a pálida Frineia,
Comparece ante a austera e rígida assembleia
Do Areópago supremo. A Grécia inteira admira
Aquela formosura original, que inspira
E dá vida ao genial cinzel de Praxíteles,
De Hiperides à voz e à palheta de Apeles.
Quando os vinhos, na orgia, os convivas exaltam
E das roupas, enfim, livres os corpos saltam,
Nenhuma hetera sabe a primorosa taça,
Transbordante de Cós, erguer com maior graça,
Nem mostrar, a sorrir, com mais gentil meneio,
Mais formoso quadril, nem mais nevado seio.
Estremecem no altar, ao contemplá-la, os deuses,
Nua, entre aclamações, nos festivais de Elêusis...
Basta um rápido olhar provocante e lascivo:
Quem na fronte o sentiu curva a fronte, cativo...
Nada iguala o poder de suas mãos pequenas:
Basta um gesto, - e a seus pés roja-se humilde Atenas...
Vai ser julgada. Um véu, tornando inda mais bela
Sua oculta nudez, mal os encantos vela,
Mal a nudez oculta e sensual disfarça.
cai-lhe, espáduas abaixo, a cabeleira esparsa...
Queda-se a multidão. Ergue-se Eutias. Fala,
E incita o tribunal severo a condená-la:
"Elêusis profanou! É falsa e dissoluta,
Leva ao lar a cizânia e as famílias enluta!
Dos deuses zomba! É ímpia! é má!" (E o pranto ardente
Corre nas faces dela, em fios, lentamente...)
"Por onde os passos move a corrupção se espraia,
E estende-se a discórdia! Heliastes! condenai-a!"
Vacila o tribunal, ouvindo a voz que o doma...
Mas, de pronto, entre a turba Hiperides assoma,
Defende-lhe a inocência, exclama, exora, pede,
Suplica, ordena, exige... O Areópago não cede.
"Pois condenai-a agora!" E à ré, que treme, a branca
Túnica despedaça, e o véu, que a encobre, arranca...
Pasmam subitamente os juizes deslumbrados,
- Leões pelo calmo olhar de um domador curvados:
Nua e branca, de pé, patente à luz do dia
Todo o corpo ideal, Frineia aparecia
Diante da multidão atônita e surpresa,
No triunfo imortal da Carne e da Beleza.
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Declinações? Casos? Coisas que não encontramos propriamente em português... Parte II
Prof. Matheus Trevizam
Havia seis “casos” internos a cada declinação/ grupo temático dos nomes latinos. Eram eles o “nominativo”, correspondente à função do sujeito, o “acusativo”, correspondente à função do objeto direto, o “genitivo”, correspondente à função do determinante, o “dativo”, correspondente à função do objeto indireto, o “ablativo”, correspondente aos adjuntos adverbiais, e o “vocativo”, correspondente a essa mesma função sintática do português. Assim, se dissermos que o “nominativo” das palavras de tema em “A” era em –a, por apresentar tal “desinência” (ou terminação indicadora de nexo gramatical), e o “acusativo” era em –am, ter-se-ia: PVELLA AMAT AMICAM – “A menina gosta da amiga” – ou ainda: AMICA AMAT PVELLAM – “A amiga gosta da menina”. Com os ajustes devidos, muitas palavras de tema em “O” apresentavam “nominativo” em –us e “acusativo” em –um, o que nos daria: LVPVS VIDET AGNVM – “O lobo vê o cordeiro” – ou ainda: AGNVS VIDET LVPVM – “O cordeiro vê o lobo”. Como as “desinências” casuais já indicavam por si a função sintática das palavras latinas, a ordem oracional das palavras nessa língua era bastante livre: LVPVS VIDET AGNVM = VIDET LVPVS AGNVM = AGNVM VIDET LVPVS = LVPVS AGNVM VIDET etc.
O mesmo, em relação à ordem das palavras nas frases (“Maria ama José” é bem diferente de “José ama Maria”!) e à morfologia dos nomes (adjetivos e substantivos), não ocorre na língua portuguesa, mas ainda subsiste, como “espelho” de um longínquo passado no latim, um funcionamento semelhante dos pronomes pessoais: ELE (sujeito) ME (objeto direto) viu (nunca, pela norma culta: “Ele viu EU”); Ofereci flores a TI (nunca, pela norma culta: “Ofereci flores a TU”).