Quem sou eu

Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Somos professores de língua e literatura clássica (Professor Matheus Trevizam - latim - e Professora Tereza Virgínia -grego) e uma aluna (Veronica Cabral) na Faculdade de Letras da UFMG. Como docentes, atuamos na graduação e na pós-graduação da FALE nas áreas do ensino, pesquisa e orientação científica a alunos.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Anuncios de Tiresias - Estudos clássicos na UFRJ



A professora Maria das Graças G. de Moraes Augusto nos informa sobre Seminário de Estudos Clássicos na UFRJ:



PROGRAMA DE ESTUDOS EM FILOSOFIA ANTIGA
SEMINÁRIOS DE ESTUDOS CLÁSSICOS
A teoria estoica dos universais
Prof. Dr. Ricardo Salles
Instituto de Investigaciones Filosóficas
Universidad Nacional Autónoma de México
28 de outubro de 2009 - 14:30 h - Sala 307A
IFCS da UFRJ
Largo de São Francisco de Paula, 1/ sala 307A - Centro - Rio de Janeiro.
Temos certeza de que todos os que acudirem ao convite da professora terão excelente acolhida e uma proveitosa tarde de estudos.




domingo, 18 de outubro de 2009

A verdade até certo ponto revelada em “Contra Neera”, de Demóstenes




Alcibíades e três cortesãs
(o relevo antigo pertence ao Museu Arqueológico Nacional de Nápoles)

A verdade até certo ponto revelada em “Contra Neera”, de Demóstenes


O discurso judicial (acusatório) “Contra Neera”, atribuído ao orador ateniense Demóstenes (384-322 a.C.), oferece-nos as chances de um olhar privilegiado para o baixo mundo da prostituição na Grécia do IV século a.C. Nessa peça oratória, assim, é-nos desvendada a história da bela prostituta coríntia Neera, que se instalara em Atenas como falsa esposa de Estêfanos, um cidadão, em companhia dos três filhos de suas aventuras. Surpreendentemente, o casal conseguiu por muito tempo burlar as desconfianças dos vizinhos e dos demais concidadãos de Estêfanos, apesar de Neera continuar exercendo sua profissão nessa cidade a fim de garantir o sustento de todos, mesmo de seu “desleixado” “marido”.

Em Atenas, além de ter-se juntado a uma estrangeira e ex-escrava como se ela fosse cidadã do lugar, Estêfanos registrou os filhos bastardos de Neera em sua “fratria” para fazê-los passar por seus descendentes legítimos e deu Fanô, uma dessas crianças (e também prostituta!), em casamento ao tolo nobre Teógenes. Casada com essa personagem dos altos círculos sociais de Atenas, Fanô chegou impuramente a tornar-se “esposa” do “Arconte-rei” (Sacerdote-chefe do culto público), pois o desavisado marido fora escolhido para o cargo por um ano. Tal profanação do culto, aos olhos dos tradicionalistas, representava os riscos de que os deuses, irados, viessem a punir toda a cidade.

Por uma ironia do destino, embora se trate o “Contra Neera” de um dos mais eloquentes testemunhos sobre a prostituição na Grécia clássica, não se sabe o desfecho do julgamento de Neera...

Para conhecer em maiores detalhes a história dessa cortesã, além da leitura do próprio discurso de Demóstenes, recomenda-se, de Catherine Salles, a obra Nos submundos da Antiguidade (Brasiliense, 1983), em tradução brasileira de Carlos Nelson Coutinho.

Prof. Matheus Trevizam




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IX SEVFALE - De 19 a 23 de Outubro



Dia 19/10/2009 : segunda-feira

9:30 às 11:00

Núcleo

Programa

Sala

NEAM

Mesa-redonda

Religiosidade e literatura na Roma antiga

Coordenadora: Heloísa Maria Moraes Moreira Penna (UFMG)

Religião romana no De re rustica varroniano – Matheus Trevizam (UFMG)

Religião romana nos Fasti de Ovídio – Heloísa Maria Moraes Moreira Penna (UFMG)

4004

Núcleo

Programa

Sala

NEAM

Conferência

Fabricar um deus

Ezio Pellizer (Università degli Studi di Trieste, Itália)

Moderador: Matheus Trevizam

Auditório 2001

16:00 às 18:00

Núcleo

Programa

Sala

NEAM

Mesa-redonda

O desporto, o amor e a morte na Grécia antiga

Coordenador: Bruno Salviano Gripp (UFMG)

A primeira pessoa nos fragmentos 69, 70 e 73 V. de Alceu de Mitilene – Bruno Salviano Gripp (USP)

Luta-livre e condição humana na VIII Pítica – Gustavo Henrique Montes Frade (UFMG)

O amor como doença em Safo de Lesbos – Marina Pelluci Duarte Mortoza (UFMG)

A morte filosófica – José Gonçalves Poddis (UFMG)

4071

Dia 20/10/2009 : terça-feira

16:00 às 18:00

Núcleo

Programa

Sala

NEAM

Mesa-redonda

Antigos e modernos: processos de transmissão textual e cultural

Coordenadora: Maria Olívia de Quadros Saraiva (UFMG)

Descrição codicológica e aspectos paleográficos do manuscrito grego da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro – Maria Olívia de Quadros Saraiva (UFMG)

O autômato e o monstro em Creta – Josiane Félix dos Santos (UFMG)

Mito, literatura e ecologia: as ninfas na obra de Lima Barreto – Vanessa Ribeiro Brandão (UFMG)

Interseções: Augusto Matraga e o mito de Dioniso – Andréia Garavello Martins (UFMG)

3106

20:45 às 22:00

Núcleo

Programa

Sala

NEAM

Espetáculo

Coro de Os persas de Ésquilo, em tradução de Jaa Torrano

Alunos de grego da FALE/UFMG

Direção: Andréia Garavelo (UFMG)

Auditório 1007

Dia 21/10/2009: quarta-feira

9:30 às 11:00

Núcleo

Programa

Sala

NEAM

Conferência

Notas sobre Quintiliano educador

Marcos Aurélio Pereira (UNICAMP)

Moderador: Matheus Trevizam (UFMG)

3000

16:00 às 18:00

Núcleo

Programa

Sala

NEAM

Mesa-redonda

Épica e romance: dois momentos da narrativa antiga

Coordenador: Thiago de Souza Bittencourt Rodrigues (UFMG)

A unidade e a coerência da composição dos Trabalhos e dias de Hesíodo – Thiago de Souza Bittencourt Rodrigues (UFMG)

Homero sob a perspectiva crítica de Demétrio em Sobre o estilo – Gustavo Araújo de Freitas (UFMG)

O olhar do bárbaro em Heracles de Luciano de Samósata – Flávia Freitas Moreira (UFMG)

3055 A


Dia 22/10/2009: quinta-feira

16:00 às 18:00

Núcleo

Programa

Sala

NEAM

Mesa-redonda

A sociedade antiga na paz e na guerra

Coordenador: Carlos Eduardo de Souza Lima Gomes (UFMG)

Entre Heródoto e Aristóteles: a construção de um Sólon pela tradição – Carlos Eduardo de Souza Lima Gomes (UFMG)

Amizade e inimizade na vida política grega – Priscilla Gontijo Leite (UFMG)

Ákletoi e sympósia: um estudo sobre a figura do parasita na Grécia antiga – Jorge Gesuilo (UFMG)

A guerra civil em César e Lucano – Priscilla Adriane Ferreira Almeida (UFMG)

3065


Dia 23/10/2009: sexta-feira

16:00 às 18:00

Núcleo

Programa

Sala

NEAM

Mesa-redonda

Helenismo, judaísmo e cristianismo

Coordenador: Cesar Motta Rios (UFMG)

Hermenêutica diegética: o potencial interpretativo das narrativas judaicas e cristãs em língua grega – Cesar Motta Rios (UFMG)

Resistência ao helenismo nos Testamentos dos doze Patriarcas – Emerson Santos Amaral (UFMG)

Referências não-luciânicas a Peregrino Proteu – Douglas Cristiano Silva (UFMG)

Gigantes, demônios e deuses nos apologistas cristãos do segundo século – Jacyntho Lins Brandão (UFMG)

3002

PÔSTERES

Os pôsteres serão afixados no saguão em frente ao Auditório 1007,

nos dias 22 e 23 de outubro, das 9 às 21 horas.

O curso de latim no CENEX/FALE – Guilherme Campos (UFMG)

Sarau da Odisseia: será que Ulisses chegará em casa? – Josiane Felix (UFMG)

Esperamos a presença de todos!






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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Uma modesta cortesã: a personagem de Báquis na “Hecyra” de Terêncio



Uma modesta cortesã: a personagem de Báquis na “Hecyra” de Terêncio

Professor Matheus Trevizam

Dentre os antigos comediógrafos romanos, Públio Terêncio Africano (185-159 a.C.) destaca-se, no cotejo com Plauto (250-184 a.C.), pouco anterior a ele, pela maior sutileza construtiva das personagens e pela suavização do veio humorístico: apesar de, sempre, vermo-nos em ambos diante dos quadros típicos da assim chamada “Comédia Nova” greco-latina, em que não faltam situações amorosas difíceis entre um rapaz de “boa” família e uma moça com quem “não pode” casar-me em paz para não ferir as convenções sociais, o primeiro autor citado evita fazer meras caricaturas de “tipos” previamente estabelecidos (“o” avarento, “a” cortesã ávida, “o” escravo esperto, “o” parasita...) e confere, mesmo, nuanças intermediárias de “drama” e reflexão ao enredo de suas peças.

Daí, no contexto de uma peça como sua Hecyra (“A sogra”), a presença de uma tocante personagem como Sóstrata, a “mater familias” a quem se imputara com injustiça a partida de casa da jovem Filúmena, esposa de seu filho, Pânfilo, por supostas desavenças entre sogra e nora. Na verdade, antes de casar-se, Filúmena fora violentada por um desconhecido e se descobrira grávida depois de já unida ao marido; assim, alarmados ambos os jovens com o problema, a moça decide voltar para a casa de seu pai, onde dá à luz um menino. O enredo da peça, no entanto, mostra ao fim que, sem o saber, o causador da gravidez da esposa fora o próprio Pânfilo, numa noite de embriaguez: tendo ele, na ocasião, dado à “bondosa” cortesã Báquis, sua antiga amante, o anel que roubara da moça violentada no escuro e fazendo-se, enfim, o reconhecimento de tudo por este objeto, pôde ao término o jovem voltar a viver em paz com sua esposa e o filho.

Na tradução de Walter de Medeiros, eis abaixo as delicadas (e sinceras) palavras de Báquis ao ex-amante reconciliado com Filúmena: “Fazes bem, Pânfilo, em te afeiçoares à tua mulher. Nunca até agora – que eu saiba – a tinha visto rosto a rosto: parece-me uma verdadeira senhora” (entre v. 860 e 865).

(edição citada - Terêncio. “A sogra”. Tradução de Walter de Medeiros. Brasília: UNB, 1994)



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Hetairas - figuras


As "hetairas" também eram uma fonte de inspiração para as artes plásticas gregas. A seguir, uma série de figurações das antigas cortesãs:
















PS: os nomes abaixo das figuras fazem link com o site onde foi encontrada a figura.




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Hetaira - antigas cortesãs






Abrindo nosso novo eixo temático, Cortesãs Antigas, o Blog "Nuntius notícias" traz um poema de Olavo Bilac, "Julgamento de Frineia". Assim como Praxíteles, também nosso poeta foi seduzido pela beleza ímpar da mais bela cortesã do mundo grego, a quem compôs preciosos versos:

“O julgamento de Frineia”

Mnezarete, a divina, a pálida Frineia,
Comparece ante a austera e rígida assembleia
Do Areópago supremo. A Grécia inteira admira
Aquela formosura original, que inspira
E dá vida ao genial cinzel de Praxíteles,
De Hiperides à voz e à palheta de Apeles.

Quando os vinhos, na orgia, os convivas exaltam
E das roupas, enfim, livres os corpos saltam,
Nenhuma hetera sabe a primorosa taça,
Transbordante de Cós, erguer com maior graça,
Nem mostrar, a sorrir, com mais gentil meneio,
Mais formoso quadril, nem mais nevado seio.

Estremecem no altar, ao contemplá-la, os deuses,
Nua, entre aclamações, nos festivais de Elêusis...
Basta um rápido olhar provocante e lascivo:
Quem na fronte o sentiu curva a fronte, cativo...
Nada iguala o poder de suas mãos pequenas:
Basta um gesto, - e a seus pés roja-se humilde Atenas...
Vai ser julgada. Um véu, tornando inda mais bela
Sua oculta nudez, mal os encantos vela,
Mal a nudez oculta e sensual disfarça.
cai-lhe, espáduas abaixo, a cabeleira esparsa...
Queda-se a multidão. Ergue-se Eutias. Fala,
E incita o tribunal severo a condená-la:

"Elêusis profanou! É falsa e dissoluta,
Leva ao lar a cizânia e as famílias enluta!
Dos deuses zomba! É ímpia! é má!" (E o pranto ardente
Corre nas faces dela, em fios, lentamente...)
"Por onde os passos move a corrupção se espraia,
E estende-se a discórdia! Heliastes! condenai-a!"

Vacila o tribunal, ouvindo a voz que o doma...
Mas, de pronto, entre a turba Hiperides assoma,
Defende-lhe a inocência, exclama, exora, pede,
Suplica, ordena, exige... O Areópago não cede.
"Pois condenai-a agora!" E à ré, que treme, a branca
Túnica despedaça, e o véu, que a encobre, arranca...

Pasmam subitamente os juizes deslumbrados,
- Leões pelo calmo olhar de um domador curvados:
Nua e branca, de pé, patente à luz do dia
Todo o corpo ideal, Frineia aparecia
Diante da multidão atônita e surpresa,
No triunfo imortal da Carne e da Beleza.

Olavo Bilac

imagem retirada do Blog "A mulher e arte"







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Declinações? Casos? Coisas que não encontramos propriamente em português... Parte II


Declinações? Casos? Coisas que não encontramos propriamente em português

Prof. Matheus Trevizam


Havia seis “casos” internos a cada declinação/ grupo temático dos nomes latinos. Eram eles o “nominativo”, correspondente à função do sujeito, o “acusativo”, correspondente à função do objeto direto, o “genitivo”, correspondente à função do determinante, o “dativo”, correspondente à função do objeto indireto, o “ablativo”, correspondente aos adjuntos adverbiais, e o “vocativo”, correspondente a essa mesma função sintática do português. Assim, se dissermos que o “nominativo” das palavras de tema em “A” era em –a, por apresentar tal “desinência” (ou terminação indicadora de nexo gramatical), e o “acusativo” era em –am, ter-se-ia: PVELLA AMAT AMICAM – “A menina gosta da amiga” – ou ainda: AMICA AMAT PVELLAM – “A amiga gosta da menina”. Com os ajustes devidos, muitas palavras de tema em “O” apresentavam “nominativo” em –us e “acusativo” em –um, o que nos daria: LVPVS VIDET AGNVM – “O lobo vê o cordeiro” – ou ainda: AGNVS VIDET LVPVM – “O cordeiro vê o lobo”. Como as “desinências” casuais já indicavam por si a função sintática das palavras latinas, a ordem oracional das palavras nessa língua era bastante livre: LVPVS VIDET AGNVM = VIDET LVPVS AGNVM = AGNVM VIDET LVPVS = LVPVS AGNVM VIDET etc.

O mesmo, em relação à ordem das palavras nas frases (“Maria ama José” é bem diferente de “José ama Maria”!) e à morfologia dos nomes (adjetivos e substantivos), não ocorre na língua portuguesa, mas ainda subsiste, como “espelho” de um longínquo passado no latim, um funcionamento semelhante dos pronomes pessoais: ELE (sujeito) ME (objeto direto) viu (nunca, pela norma culta: “Ele viu EU”); Ofereci flores a TI (nunca, pela norma culta: “Ofereci flores a TU”).



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