Quem sou eu

Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Somos professores de língua e literatura clássica (Professor Matheus Trevizam - latim - e Professora Tereza Virgínia -grego) e uma aluna (Veronica Cabral) na Faculdade de Letras da UFMG. Como docentes, atuamos na graduação e na pós-graduação da FALE nas áreas do ensino, pesquisa e orientação científica a alunos.

domingo, 18 de outubro de 2009

A verdade até certo ponto revelada em “Contra Neera”, de Demóstenes




Alcibíades e três cortesãs
(o relevo antigo pertence ao Museu Arqueológico Nacional de Nápoles)

A verdade até certo ponto revelada em “Contra Neera”, de Demóstenes


O discurso judicial (acusatório) “Contra Neera”, atribuído ao orador ateniense Demóstenes (384-322 a.C.), oferece-nos as chances de um olhar privilegiado para o baixo mundo da prostituição na Grécia do IV século a.C. Nessa peça oratória, assim, é-nos desvendada a história da bela prostituta coríntia Neera, que se instalara em Atenas como falsa esposa de Estêfanos, um cidadão, em companhia dos três filhos de suas aventuras. Surpreendentemente, o casal conseguiu por muito tempo burlar as desconfianças dos vizinhos e dos demais concidadãos de Estêfanos, apesar de Neera continuar exercendo sua profissão nessa cidade a fim de garantir o sustento de todos, mesmo de seu “desleixado” “marido”.

Em Atenas, além de ter-se juntado a uma estrangeira e ex-escrava como se ela fosse cidadã do lugar, Estêfanos registrou os filhos bastardos de Neera em sua “fratria” para fazê-los passar por seus descendentes legítimos e deu Fanô, uma dessas crianças (e também prostituta!), em casamento ao tolo nobre Teógenes. Casada com essa personagem dos altos círculos sociais de Atenas, Fanô chegou impuramente a tornar-se “esposa” do “Arconte-rei” (Sacerdote-chefe do culto público), pois o desavisado marido fora escolhido para o cargo por um ano. Tal profanação do culto, aos olhos dos tradicionalistas, representava os riscos de que os deuses, irados, viessem a punir toda a cidade.

Por uma ironia do destino, embora se trate o “Contra Neera” de um dos mais eloquentes testemunhos sobre a prostituição na Grécia clássica, não se sabe o desfecho do julgamento de Neera...

Para conhecer em maiores detalhes a história dessa cortesã, além da leitura do próprio discurso de Demóstenes, recomenda-se, de Catherine Salles, a obra Nos submundos da Antiguidade (Brasiliense, 1983), em tradução brasileira de Carlos Nelson Coutinho.

Prof. Matheus Trevizam




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