
O gênero epistolar e suas manifestações na Literatura Latina
Professor Matheus Trevizam
O que diferencia, como gênero literário, a composição de cartas de outras produções possíveis? Uma carta é, essencialmente, uma mensagem escrita direcionada de um remetente a um destinatário, que apenas cumpre por inteiro a própria função comunicativa com o envio e, sobretudo, a leitura. Independentemente de ser mais ou menos elaborada do ponto de vista linguístico, assim, uma epístola seria “falaciosa” caso não cumprisse este seu papel de meio comunicativo à distância: é o que se dá nas coletâneas escritas com vistas imediatas à publicação, sem que nunca os autores tenham, de fato, composto suas mensagens em resposta a alguma necessidade prática de se fazerem presentes in absentia...
Em si mesma compreendida, a escrita de cartas foi copiosa em Roma antiga: vários autores, de menor (Sidônio Apolinário, Aurélio Símaco, Paulino de Nola...) ou maior (Plínio, o Jovem, Cícero, São Jerônimo, imperador Trajano, Horácio...) expressão, legaram-nos recolhos epistolares provenientes da Antiguidade, por vezes bem volumosos (cf. 860 cartas que se atribuem a Cícero!). Nem em todos os casos, porém, como veremos pouco a pouco, pode-se ter certeza de que se trata de textos compostos com vistas ao pleno preenchimento pragmático da função epistolar.










Magno (imagem a esquerda) no séc. I a.C.: o tema do fratricídio, a sangrenta violência de tantos episódios bélicos, a linguagem trabalhada ao extremo, de acordo com o gosto das escolas de retórica de sua época, a fuga às demasiadas intervenções dos deuses no mundo e o deslocamento motor da trama para as motivações psicológicas das personagens retratadas constituem, então, alguns traços característicos da dicção lucaniana. Uma das vozes mais curiosas da história da Literatura latina, Lucano teve a má sina de ver-se obrigado ao suicídio com apenas vinte e seis anos, pois o perseguiam implacáveis, como também sucedeu ao tio (o filósofo estóico Sêneca), os rancores do imperador Nero.