O gênero epistolar e suas manifestações na Literatura Latina
Professor Matheus Trevizam
O que diferencia, como gênero literário, a composição de cartas de outras produções possíveis? Uma carta é, essencialmente, uma mensagem escrita direcionada de um remetente a um destinatário, que apenas cumpre por inteiro a própria função comunicativa com o envio e, sobretudo, a leitura. Independentemente de ser mais ou menos elaborada do ponto de vista linguístico, assim, uma epístola seria “falaciosa” caso não cumprisse este seu papel de meio comunicativo à distância: é o que se dá nas coletâneas escritas com vistas imediatas à publicação, sem que nunca os autores tenham, de fato, composto suas mensagens em resposta a alguma necessidade prática de se fazerem presentes in absentia...
Em si mesma compreendida, a escrita de cartas foi copiosa em Roma antiga: vários autores, de menor (Sidônio Apolinário, Aurélio Símaco, Paulino de Nola...) ou maior (Plínio, o Jovem, Cícero, São Jerônimo, imperador Trajano, Horácio...) expressão, legaram-nos recolhos epistolares provenientes da Antiguidade, por vezes bem volumosos (cf. 860 cartas que se atribuem a Cícero!). Nem em todos os casos, porém, como veremos pouco a pouco, pode-se ter certeza de que se trata de textos compostos com vistas ao pleno preenchimento pragmático da função epistolar.