Quem sou eu

Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Somos professores de língua e literatura clássica (Professor Matheus Trevizam - latim - e Professora Tereza Virgínia -grego) e uma aluna (Veronica Cabral) na Faculdade de Letras da UFMG. Como docentes, atuamos na graduação e na pós-graduação da FALE nas áreas do ensino, pesquisa e orientação científica a alunos.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Anúncios de Tirésias - Seminario no IFCS - RJ







O Instituto de Filosofia e Ciências Sociais do Rio de Janeiro será palco de discussões platônicas. Acontece nos dias 28 e 29 de setembro de 2009 o seminário "Platão e a tradição filosófica", promovido pelo Programa de Estudos em Filosofia Antiga, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais - IFCS - no Largo São Francisco de Paula, 1 - Sala 320 B. Para as discussões, são aguardados estudiosos de universidades da América Latina: os professores Olimar Flores Júnior e Antônio Orlando de Oliveira Dourado Lopes, da Universidade Federal de Minas Gerais, Maria Isabel Santa Cruz, Ivana Costa e Silvana di Camillo, da Universidad de Buenos Aires (UBA), e Marcelo Diego Boeri, da Universidad de Los Andes (UANDES) - Chile.


Maiores Informações no PPGLM, pelo tel: +55 21 22 52 80 32 ramal 308

Para acessar o cartaz com a programação do evento, clique aqui.





.

domingo, 6 de setembro de 2009

Declinações? Casos? Coisas que não encontramos propriamente em português


Parte I:

Outra ansiedade dos que se propõem a um primeiro contato com a língua latina (o mesmo, pode-se dizer, há de ocorrer com a grega!) diz respeito à “obscura” ideia das “declinações”. Quando, porém, descobre-se que cada uma delas, na língua de Cícero, ainda conta com pelo menos seis “casos” gramaticais internos, muitas vezes sobrevém o susto...

Essas noções não resultariam tão “estranhas” se notássemos que, em parte, há leves “resquícios” das “declinações” latinas nos nomes de nossa língua e, em muito menor medida, até dos “casos” nos pronomes pessoais. Assim, “declinações” eram grupos de nomes latinos que se aproximavam por apresentarem uma mesma “vogal temática” (“a” - primeira -, “o” - segunda -, “i” - terceira -, “u” - quarta - “e” - quinta) ou por não a apresentarem (palavras consonantais da terceira declinação) e que, simultaneamente, marcavam sua função sintática nas frases (sujeito, objeto direto, objeto indireto...) recorrendo às mesmas “desinências” casuais.

Por motivos didáticos, trataremos melhor da questão das “desinências” e “casos” na segunda parte das explicações, mas nomes a conterem diferentes “vogais temáticas” e, por isso, reunidos sob “grupos temáticos” específicos são possíveis também em português (como eram em latim!). Assim, “pactO”, em nossa língua, pertence ao “grupo temático” das palavras em “o”, como o termo latino “pactOrum” (“dos pactos”, genitivo plural); portanto, esse último correspondia tipologicamente à “segunda declinação”. Mas, em português, “rosA” e “mesA”, ou, em latim, “rosA” e “mensA” são palavras do “grupo temático” em “a” (o que bastava, na língua de Cícero, para vinculá-las à “primeira declinação”).

Para a discussão inicial da estrutura dos nomes (substantivos e adjetivos) em português, remetemos o leitor a CUNHA, Celso. Gramática da língua portuguesa. Rio de Janeiro: FAE/ Ministério da Educação e Cultura, 1985, p. 92-93; para a específica discussão do papel e existência das “vogais temáticas” no mesmo idioma, cf. artigo de Luiz Cláudio Valente Walker de Medeiros, “Vogal temática nominal”.

Professor Matheus Trevizam

[notas do autor - “vogais temáticas” são elementos vocálicos pospostos ao “radical”, a parte a conter os principais sentidos de um termo, mas antepostos às “desinências”, marcas morfológicas finais que, nos substantivos e adjetivos, indicam noções como o número: “rosas” = ros (radical)+A (vogal temática)+s (desinência); por “temas”, aqui entendemos a soma do “radical” mais a “vogal temática”, se houver].


As “Epistulae Heroidum” de Ovídio, ou “des lettres qui n’en sont pas vraiment”



Como dissemos logo nas postagens introdutórias sobre o gênero epistolar, o que caracteriza propriamente uma carta é o pormenor de ser ela escrita visando a fins comunicativos de fato, isto é, com intentos de corresponder a um intermediário entre seu autor e um destinatário longínquo a lê-la para informar-se. Nesse sentido, o que se vê na coletânea denominada “Cartas das heroínas”, de Ovídio, não se enquadra bem na canônica definição epistolar: trata-se de quinze elegias, ou poemas escritos no metro “dístico elegíaco” da poética greco-romana, compostas sob a “forma aparente” de missivas endereçadas por várias heroínas míticas a seus amantes/ maridos. Ei-nos, portanto, diante dessa obra, confrontados com casais de sonho, a povoarem a literatura ocidental desde Homero (Penélope e Odisseu, Briseida e Aquiles, Dido e Eneias...), e cuja fictícia “comunicação” se deve apenas à arte de Ovídio. Como em geral se trata aqui de amores fadados ao fracasso ou a envolverem amantes separados no tempo e no espaço, muito do tom choroso da “elegia erótica romana”, de Propércio e Tibulo, perpassa o livro em pauta. Abaixo, em minha tradução, poucos versos da carta VII (v. 37-44), endereçada por Dido a Eneias no trágico instante da partida do herói de Cartago (e de seus braços):

“A ti, pedras, montes e carvalhos em altas penhas

nascidos, a ti geraram feras cruéis,

ou o mar, tal como ainda agora o vês agitado pelos ventos

e para onde, contudo, queres ir sobre ondas hostis.

Para onde foges? A tempestade proíbe. Valha-me o favor da tempestade!

Nota como o Euro revolve as águas revoltas!

O que preferira a ti, deixa-me dever aos vagalhões;

é mais justo o vento e o mar que teu coração".


Professor Matheus Trevizam


A imagem foi encontrada no blog "Leda y el Cisne". Um blog inteiramente dedicado a esse mito, onde podemos encontrar um interessante texto sobre as "Heroides" de Ovidio, lidas a partir de aportes sobre o mesmo tema. O texto está em espanhol.


As “Epistulae morales ad Lucilium” e a tradição da filosofia estoica



Nas “Cartas morais a Lucílio”, entrevemos uma das mais apaixonantes faces do grande homem de cultura que foi Lúcio Aneu Sêneca no século I d.C.: referimo-nos aqui ao filósofo, natural de Córdoba, na “Hispania” romana, e que se destacou em seu tempo como estadista sob Nero e Agripina, autor de numerosos “tratados” dedicados a temas caros ao Estoicismo, dramaturgo e epistológrafo. O destinatário dessas cartas, Lucílio, foi um amigo a quem Sêneca, quiçá um pouco mais adiantado na via da Sabedoria, intenta aclarar, com a ternura (e, por vezes, a necessária dureza!) dos que amam, em assuntos como o significado da vida e da morte, das riquezas e prazeres mundanos, do que em geral se consideram “dores” entre os homens... Abaixo, uma importante passagem do mesmo recolho epistolar, pois nela se oferecem “antídotos” contra os “venenos” morais da vaidade e da inveja:


Quanto a estudares com afinco e, preterindo todo o resto, apenas buscares a isto, que a cada dia te tornes melhor, aprovo e alegro-me, e não só exorto a perseverares, mas ainda peço. Contudo, aconselho-te que não – à maneira de quem não deseja progredir, mas ser notado – faças certas coisas que atraiam os olhares para teu comportamento ou estilo de vida; evita o desleixo do corpo, os cabelos desgrenhados, a barba um tanto mal feita, o ódio aberto ao dinheiro, um leito sobre o chão e, ainda, o que for que persiga a ambição por um mau caminho.

O próprio nome da filosofia, ainda que discretamente tratado, já é bastante odioso: e se começarmos a nos negar aos hábitos humanos? Dentro, tudo difere, convenha nossa face ao vulgo” (“Ad Lucilium” I, V 1-2).


Prof. Matheus Trevizam


Para baixar obras sobre Sêneca, clique aqui.



“Nuntius notícias”: reativação do blog no “pós-férias”



Acabo de retornar do XII “Congresso nacional de Linguística e Filologia”, promovido pelo “Círculo fluminense de estudos Filológicos e Linguísticos” nas dependências do Instituto de Letras da UERJ, no Rio de Janeiro (24 a 28 de agosto de 2009). Além da misteriosa vista do Morro da Mangueira recoberto por nuvens de bruma numa inusitada manhã de inverno carioca (frio e névoa “londrina” no Rio?), trouxe na memória o reencontro com colegas e a satisfação da força dos estudos latinos entre os eruditos filólogos da UERJ: na ocasião, inclusive, lançou-se em coquetel recente edição de um novo “Dicionário Latino-Português”, de lavra de docentes daquela Casa e publicado pela prestigiosa editora Vozes, de Petrópolis.

O que também torna ao ar após as “brumas” invernais desse agosto belo-horizontino é “Nuntius notícias”, trazendo de novo aos leitores as costumeiras postagens de língua clássica e literatura antiga. (Re)iniciemo-lo, enfim, que, como disse o general romano Gneu Pompeu Magno a espantados marinheiros, “nauigare necesse”.


Prof. Matheus Trevizam


A imagem é o cartaz do encontro e pode ser encontrada clicando aqui.