Quem sou eu

Belo Horizonte, Minas Gerais, Brazil
Somos professores de língua e literatura clássica (Professor Matheus Trevizam - latim - e Professora Tereza Virgínia -grego) e uma aluna (Veronica Cabral) na Faculdade de Letras da UFMG. Como docentes, atuamos na graduação e na pós-graduação da FALE nas áreas do ensino, pesquisa e orientação científica a alunos.

domingo, 6 de setembro de 2009

As “Epistulae Heroidum” de Ovídio, ou “des lettres qui n’en sont pas vraiment”



Como dissemos logo nas postagens introdutórias sobre o gênero epistolar, o que caracteriza propriamente uma carta é o pormenor de ser ela escrita visando a fins comunicativos de fato, isto é, com intentos de corresponder a um intermediário entre seu autor e um destinatário longínquo a lê-la para informar-se. Nesse sentido, o que se vê na coletânea denominada “Cartas das heroínas”, de Ovídio, não se enquadra bem na canônica definição epistolar: trata-se de quinze elegias, ou poemas escritos no metro “dístico elegíaco” da poética greco-romana, compostas sob a “forma aparente” de missivas endereçadas por várias heroínas míticas a seus amantes/ maridos. Ei-nos, portanto, diante dessa obra, confrontados com casais de sonho, a povoarem a literatura ocidental desde Homero (Penélope e Odisseu, Briseida e Aquiles, Dido e Eneias...), e cuja fictícia “comunicação” se deve apenas à arte de Ovídio. Como em geral se trata aqui de amores fadados ao fracasso ou a envolverem amantes separados no tempo e no espaço, muito do tom choroso da “elegia erótica romana”, de Propércio e Tibulo, perpassa o livro em pauta. Abaixo, em minha tradução, poucos versos da carta VII (v. 37-44), endereçada por Dido a Eneias no trágico instante da partida do herói de Cartago (e de seus braços):

“A ti, pedras, montes e carvalhos em altas penhas

nascidos, a ti geraram feras cruéis,

ou o mar, tal como ainda agora o vês agitado pelos ventos

e para onde, contudo, queres ir sobre ondas hostis.

Para onde foges? A tempestade proíbe. Valha-me o favor da tempestade!

Nota como o Euro revolve as águas revoltas!

O que preferira a ti, deixa-me dever aos vagalhões;

é mais justo o vento e o mar que teu coração".


Professor Matheus Trevizam


A imagem foi encontrada no blog "Leda y el Cisne". Um blog inteiramente dedicado a esse mito, onde podemos encontrar um interessante texto sobre as "Heroides" de Ovidio, lidas a partir de aportes sobre o mesmo tema. O texto está em espanhol.


Nenhum comentário:

Postar um comentário